O pulo do gato da cabeleireira

Empreendedorismo 07 Fevereiro 2019

Por Alice Salvo Sosnowski*

Aos 58 anos, Zuleika decidiu virar a mesa e se reinventar. Seguiu a tendência da mobilidade e passou a atender as clientes em domicílio

Zuleika Ortiz é daquelas cabeleireiras à moda antiga. Um tanto profissional da beleza, um pouco psicóloga, recebe as clientes com tesouras e conselhos afiados. Fez a vida, criou os dois filhos advogados e comprou uma casa de praia com a renda do salão de beleza que abriu em 2001 na Vila Mariana, zona sul de São Paulo.

Nesses anos todos, viu a vizinhança crescer: casas derrubadas que deram lugar a prédios, o pequeno armazém que se transformou num supermercado, a lanchonete que servia prato feito e foi substituída por uma farmácia de luxo. Isso sem contar os casamentos, separações, mortes e nascimentos que acompanhou. “A maior parte das minhas clientes viraram amigas. Vi seus filhos crescerem. Eles me chamam de tia”, conta Zuleika.

Mas nos últimos anos, a cabeleireira também viu a crise de perto. Não nos números frios estampados nos jornais, mas aquela do dia a dia, de gente perdendo emprego, mudando de casa, deixando de ir ao salão de beleza para comprar a comida do dia a dia.

Para ela, as coisas também apertaram e depois de 18 anos no mesmo ponto, se viu numa situação difícil: o aumento do aluguel, da luz e dos produtos de beleza não acompanhou os atendimentos, que caíram drasticamente. “Tinha dia que passava o dia inteiro sentada esperando as clientes”. “Em outubro de 2018 cheguei ao cúmulo de trabalhar o mês inteiro e, depois de pagar as contas, vi que tinha me sobrado 43 centavos”, diz.

Foi aí que, aos 58 anos, Zuleika decidiu virar a mesa e se reinventar. Fechou as portas, entregou o ponto e com uma mala numa mão e o celular na outra começou a avisar as clientes que a partir de 2019 atenderia em domicílio. “Resolvi seguir a tendência da mobilidade. Mando o whatsapp para as clientes, elas marcam o horário e me esperam em casa com um cafezinho”, se diverte.

De conversa boa, sorriso fácil e trabalho justo, Zuleika conseguiu manter 70% da clientela antiga. Muitas senhoras que tinham dificuldade para sair de casa e também as clientes mais jovens que preferem o conforto do lar. Agora, a cabeleireira sai para trabalhar já sabendo quanto vai receber, sem precisar bancar o custo fixo para manter o salão. “Vai me sobrar mais dinheiro e menos rugas de preocupação”, diz.  

Zuleika é um exemplo de que nem sempre a crise é sinônimo de fracasso. “Ela pode ser uma alavanca para uma mudança que ficamos adiando”. Hoje, mais leve, mais feliz e mais disposta, a cabeleireira mostra que não tem idade para se reinventar e sair da zona de conforto. Ela continua fazendo o que sabe e o que gosta com as clientes que conquistou em 18 anos de atividade ininterruptas. “Antes era eu que recebia as clientes em meu salão. Agora, são elas que abrem as portas de casa para minha nova vida”, diz a cabeleireira agradecida pela oportunidade.

Quem quiser receber a Zuleika para fazer cabelo, corte, tintura, unha e sobrancelha, é só ligar ou mandar WhatsApp no número (11) 9.9251-1195.

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*Alice Salvo Sosnowski é jornalista, consultora de negócios, autora do livro Empreendedorismo para Leigos, da editora Alta Books, professora de empreendedorismo e mentora de empreendedores, startups e empresas de diversos setores com mais de 12 anos de atuação na área.


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